Dúvidas linguísticas

O particípio passado é uma forma nominal do verbo, isto é, é uma forma do verbo que pode ter as propriedades de flexão dos nomes e adjectivos. Por este motivo, é difícil por vezes distinguir entre um particípio ou um adjectivo, sobretudo no caso dos particípios de verbos transitivos, pois a sua esmagadora maioria funciona também sintacticamente como adjectivo.

Regra geral, os particípios passados são usados para formar os tempos compostos com os auxiliares ter (ex.: o cão tem comido pouco) ou haver (ex.: havia conquistado muitas praças) e nesses casos não admitem flexão em género ou em número (ex.: a cadela tem *comida pouco; haviam *conquistados muitas praças; o asterisco indica agramaticalidade).

Também são habitualmente consideradas particípios as formas que se juntam ao auxiliar ser para formar a voz passiva sintáctica, como no caso da frase que menciona (o pão foi comido); no entanto, estas formas de particípio são já adjectivais, pois apresentam marcas de género e número e de concordância com o substantivo a que dizem respeito (ex.: os pães foram comidos; a broa foi comida; as refeições foram comidas).

Estas propriedades de flexão do adjectivo e de concordância com o substantivo podem também estar presentes em outras utilizações do particípio, como nas orações participiais (ex.: comidos os pães, passaram à sopa), no uso predicativo (ex.: as broas estavam cozidas) ou atributivo (ex.: os pães comidos estavam secos) em relação a um substantivo. Além disso, os particípios adjectivais possuem outras propriedades dos adjectivos, como o facto de poderem ter flexão em grau (ex.: as broas estavam muito cozidas) ou de permitirem a presença de modificadores a intermediar o verbo e o adjectivo participial (ex. os pães foram bem comidos; a broa foi lentamente cozida).

Bibliografia: Maria Helena Mira MATEUS et al., Gramática da Língua Portuguesa, 5ª ed., Editorial Caminho, Lisboa, 2003, pp. 374-375.