Desde sempre tive muita dificuldade em escrever palavras que têm -ss-, -ç-, -s- e -c-
2005-10-21, R. P.,
A ortografia é um
conjunto de regras convencionadas; como tal, é artificial e às vezes “pouco
amiga do utilizador”.
A maioria das vezes, é o utilizador da língua que mais lê
e mais consulta obras de referência, como dicionários, prontuários e afins, que
melhor conhece essas regras e que melhor escreve.
O caso das consoantes ou
sequências de consoantes apontadas é frequentemente problemático, por
corresponder muitas vezes ao mesmo som [s].
Não há nenhuma estratégia para
escrever correctamente que não passe pela memorização do léxico e pela
interiorização das regras, decorrentes da experiência de leitura e de escrita.
Há, no entanto, algumas indicações úteis:
a) O esse simples (s) representa o som [s] apenas em início de
palavra (ex.: seguro, só), a seguir a
vogal nasal (ex.: cônsul, pensão), ou a seguir
a consoante (ex.: absorção, bolso, psicologia,
ursoobséquio
ou trânsito, em que o s se lê [z]. Entre vogais,
o s nunca tem valor de [s], mas sempre de [z] (ex.: casa).
b) O esse dobrado (ss) representa o som [s] apenas em
contextos intervocálicos (ex.: assar, isso, promessa,
russo), e nunca em início de palavra ou depois de consoante.
c) O cê (c) representa o som [s] apenas antes das vogais e
(ex.: aceder, alce, comecei, torcer)
ou i (ex.: ácido, cálcio, macio,
narciso).
d) O cê com cedilha ou cê cedilhado é um sinal gráfico (ç)
que representa o som [s] antes das vogais a (ex.: alça,
cabeça, junção), o (ex.: calço,
moço, monções) ou u (ex.: açúcar,
calçudo). Este sinal nunca surge em início de palavra, nem se
usa antes das vogais e (ex.: cabecear) ou i
(ex.: mocinho), pois nesses casos o cê sem cedilha (c)
já tem o valor de [s].
As indicações acima, ou outras mais completas, não resolvem todas as dúvidas,
apenas excluem algumas grafias erradas e podem ajudar a interiorizar certas
regras depois de explicitadas. A consulta de obras de referência (dicionários,
vocabulários, prontuários e afins), de que o
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa é apenas um exemplo, pode ajudar na verificação de casos duvidosos.
Esta verificação pode também contribuir para a memorização do léxico e
interiorização das regras.
Poderá ter alguma utilidade a consulta da Base V do
Acordo Ortográfico de 1945
para a norma europeia do português, especialmente no número
3.º. Para a norma brasileira, estas indicações também são válidas, sendo
semelhantes às que estão no grupo X do
Formulário Ortográfico de 1943.
Com a aplicação do
Acordo Ortográfico de 1990, não há nenhuma alteração relativamente a este assunto, mas poderá ser útil a consulta da
Base III.
2005-10-21
Helena Figueira