Dúvidas linguísticas
[Lexicografia / Definição]
Pretendo contribuir para esclarecer e "corrigir" ou saber a vossa opinião sobre
o seguinte: Após uma breve discussão, onde insisti que não existiam surdos-mudos, uma colega decidiu verificar na vossa página do dicionário o significado, onde descrevem que se trata de alguém surdo e mudo em simultâneo. Clinicamente não há surdos-mudos. Há surdos e há mudos. Os surdos que não falam, é porque não conseguem verbalizar as palavras por não as conseguirem ouvir e não terem aprendido. Assim, gostava de ver corrigida a definição.
C. G. , Portugal
Como
é referido no site, o Dicionário
Priberam da Língua Portuguesa (DPLP) é um dicionário de português
europeu que tem por base o Novo Dicionário Lello da Língua Portuguesa
(Porto, Lello Editores, 1996 e 1999), licenciado pela Priberam em 2008. O seu
conteúdo foi adaptado para formato adequado à disponibilização electrónica pela
Priberam e tem sido revisto pela sua equipa de linguistas, estando em constante
actualização e melhoramento. Por este motivo, muitas das definições estão
claramente datadas e têm sido alvo de reformulação. Foi agora também o caso dos
verbetes
surdo-mudo e
surdo-mudez,
que, devido à sua indicação, foram reformulados para melhor descrever o seu uso,
não podendo, no entanto, desviar-se do significado que têm na língua,
independentemente das convicções de cada lexicógrafo ou utilizador do
dicionário.
É geralmente imprópria a designação de surdo-mudo para um indivíduo que
sofre de surdez,
uma vez que surdez e
mudez são,
de facto, incapacidades diferentes, que não estão necessariamente relacionadas.
Na maioria dos casos em que é usada a palavra surdo-mudo, o mais correcto
seria surdo.
No entanto, este facto não invalida que a palavra possa designar um surdo que
também é mudo por anomalia do aparelho fonador ou por não ter aprendido a
oralizar. O Dicionário Médico, de Manuila et al. (Lisboa: Climepsi
Editores, 2001, 2.ª ed., p. 404), define a mudez como “incapacidade de falar em
consequência de uma lesão dos órgãos da fonação ou dos centros nervosos dos
quais esta depende (V. afasia), ou ainda em consequência de surdez congénita que
impede o indivíduo de aprender a falar (surdo-mudez)”.
Esta questão não é, no fundo, uma questão linguística, pois a função de um
dicionário passa essencialmente por uma descrição dos usos da língua, devendo
basear-se essencialmente em factos linguísticos e não estabelecer juízos de
valor relativamente a esses factos, antes apresentá-los o mais objectivamente
possível. Relativamente às definições da palavra surdo-mudo, o DPLP
procura veicular o significado que ela apresenta na língua, mesmo que alguns dos
seus significados possam revelar preconceito ou falta de propriedade. Este não
é, na língua portuguesa ou em qualquer outra língua, um caso único, pois as
línguas, enquanto sistemas de comunicação, veiculam também os preconceitos da
cultura em que se inserem.
Notas
- As respostas são datadas e escritas segundo a ortografia da norma europeia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.
- A base do dicionário foi alterada a 1 de Abril de 2009, pelo que as referências em dúvidas anteriores a esta data podem não corresponder ao conteúdo actual.
- As respostas sobre questões ortográficas são maioritariamente baseadas na norma ortográfica portuguesa de 1945, contendo as respostas mais recentes indicações sobre a ortografia antes e depois do Acordo Ortográfico de 1990.
- A bibliografia utilizada está disponível aqui.