FLiP – Ferramentas para a Língua Portuguesa

É com espanto que vejo que na conjugação do verbo haver aparecer a forma houveram.
Sempre aprendi que a 3.ª pessoa do plural do pretérito perfeito não existe.
Podem-me explicar se é moda nova?!

2004-01-26, L. C.,

A flexão do verbo haver varia consoante o seu emprego. Assim, quando este é empregue como verbo principal, com os sentidos de “existir” (em 1.a), de "ter decorrido" (em 2.a) e de “acontecer” (em 3.a), ele é impessoal, i.e., utiliza-se apenas na 3.ª pessoa do singular. Daí a má formação das frases 1.b), 2.b) e 3.b), assinaladas com asterisco (*):

1. a) Houve muitos deputados investigados.
b) * Houveram muitos deputados investigados.

2. a) Havia duas horas que estava à espera.
b) * Haviam duas horas que estava à espera.

3. a) Na semana passada houve muitos acidentes.
b) * Na semana passada houveram muitos acidentes.

Quando é empregue como verbo principal com outros sentidos que não os de "existir", "ter decorrido" ou "acontecer", é flexionado em todas as pessoas:

4. a) Os organizadores do colóquio houveram por bem encomendar uma sondagem. [achar, considerar]
b) E que bem se houveram os portugueses no confronto! [avir-se]

O verbo haver emprega-se ainda como auxiliar em tempos compostos, sendo também flexionado em todas as pessoas:

5. As encomendas haviam sido entregues.

Como se pode ver pelas frases 4-5, a 3.ª pessoa do plural do pretérito perfeito do verbo haver existe, pelo que o conjugador deve incluí-la, não podendo é ser utilizada nos casos em que o verbo é impessoal.

2004-01-26

Cláudia Pinto

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