FLiP – Ferramentas para a Língua Portuguesa

Se, de fato, o novo acordo ortográfico dos países de língua portuguesa começar a
vigorar, no qual será extinto o trema (¨), como saberemos a pronúncia correta do "QUE" em certa palavras como seqüestro, onde o "U" é pronunciado, e querida, onde não é.

2004-11-18, C. E. M. S.,

A ortografia é um conjunto de regras convencionadas, e, como tal, é artificial e às vezes “pouco amiga do utilizador”. O mais das vezes, é o utilizador da língua que mais lê e mais consulta obras de referência, como dicionários, prontuários e
afins, que melhor conhece essas regras e que melhor escreve. No caso do trema, a sua utilização parece resolver alguns problemas, mas pode criar outros, sobretudo na aprendizagem da pronúncia a partir da escrita.

Sendo o trema um sinal ortográfico convencionado para assinalar que uma vogal não forma ditongo com outra vogal que está imediatamente antes ou depois, no português do Brasil, este sinal usa-se apenas sobre o -u- nos grupos de
letras güe, güi, qüe ou qüi, para indicar que o -u- é também lido (se o -u- for tónico, em vez de um trema usa-se um acento agudo, ex.: averigúe). Mas esta regra cria também casos em que há várias
grafias possíveis (como nas grafias de sangüinário/sanguinário), quando há pronúncias alternativas possíveis, o que pode criar dúvidas nos falantes.

A abolição do trema com a entrada em vigor do novo acordo ortográfico será uma questão de habituação, como para muitas outras convenções ortográficas (por exemplo, em 1945 em Portugal e em 1971 no Brasil, a abolição de distinção
ortográfica com acento circunflexo diferencial em palavras como acerto [verbo] / acêrto [substantivo]), pois os utilizadores da língua ou já conhecem as palavras ou consultam obras de referência (recorde-se que o trema no português de Portugal foi instituído em 1920 e suprimido em 1945, excepto em nomes estrangeiros e seus derivados, e que isso não constringe os falantes).

Esta reflexão é particularmente pertinente se tivermos em conta que no português do Brasil, em 1971, o trema já havia sido abolido nos hiatos átonos, onde tinha a mesma função de assinalar que uma vogal não forma ditongo com a anterior. Por exemplo, em agauchar, arcaizante, juizinho,
paraibano, proibição, reunião, sauval,
viuvez
, entre muitas outras palavras, estamos perante hiatos (isto é, grupos de duas vogais que não formam ditongo, logo pertencem a sílabas diferentes), grafados sem trema, para cuja correcta pronúncia (do ponto de vista
etimológico, pelo menos) será necessário conhecer a palavra ou a sua etimologia (ex.: agauchar < gcho), consultar um dicionário que tenha essa informação (por exemplo, o Dicionário Houaiss ou o Dicionário Aurélio têm pequenas indicações de ortoépia) ou perguntar a quem sabe (que é o que fazem geralmente as crianças ou os estudantes de português).

2004-11-18

Helena Figueira

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