A palavra stress pode ser utilizada em português?
2005-02-25, I. M. A. B.,
A questão levantada coloca um problema, recorrente nos utilizadores e nos
dicionários de língua portuguesa, que diz respeito à adaptação de
estrangeirismos. Geralmente, a grafia e a pronúncia destas palavras importadas
de outras línguas desrespeitam as regras mais usuais do português, o que acentua
o seu carácter estrangeiro e, por vezes, motiva reacções de recusa por parte de
alguns falantes e gramáticos.
A forma stress é um anglicismo e, se optar pela sua utilização,
deve fazê-lo respeitando as regras que se aplicam aos estrangeirismos em geral,
isto é, escrevendo em itálico, para realçar que se trata de palavra estrangeira
adoptada pelo português. Por se ter generalizado na linguagem corrente e em
domínios técnicos como a medicina, tem resistido às traduções propostas (ex.:
cansaço, fadiga, pressão, tensão), estando averbada nos
principais dicionários de língua portuguesa. No entanto, e dado o seu carácter
marcadamente estrangeiro (o grupo consonântico inicial st- e a terminação
em consoante final -ss são praticamente inexistentes em palavras
portuguesas), surgiram aportuguesamentos espontâneos, mais conformes às regras
da língua portuguesa: no português europeu, o Dicionário da Língua Portuguesa
Contemporânea (Academia das Ciências/Verbo, 2001) regista a forma
stresse (que, ainda assim, mantém o problema do grupo consonântico
inicial); no português do Brasil, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
(Editora Objetiva, 2001) e o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa,
(Editora Positivo, 2004) registam a forma estresse (que anula os
grupos consonânticos inicial e final). A diferença de aportuguesamentos reflecte
uma tendência divergente das duas variedades do português. O mesmo é válido para
os seus derivados stressar, stressante e stressado (no
português europeu) e estressar, estressante e estressado
(no português do Brasil).
2005-02-25
Cláudia Pinto