Base XVI - Do hífen nas formações
Base XVI
Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação
1.º Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-, extra-, hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, sub-, super-, supra-, ultra-, etc.) e em formações por recomposição, isto é, com elementos não autónomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (tais como: aero-, agro-, arqui-, auto-, bio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-, macro-, maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto-, pseudo-, retro-, semi-, tele-, etc.), só se emprega o hífen nos seguintes casos:
a) Nas formações em que o segundo elemento começa por1 h: anti-higiénico/anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro, contra-harmónico/contra-harmônico, extra-humano, pré-história, sub-hepático, super-homem, ultra-hiperbólico; arqui-hipérbole, eletro-higrómetro, geo-história, neo-helénico/neo-helênico, pan-helenismo, semi-hospitalar.
Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc.;
b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno.
Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.;
c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, m ou n [além de h, caso já considerado atrás na alínea a)]: circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, pan-mágico, pan-negritude;
d) Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados com elementos iniciados por r: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista;
e) Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei; sota-piloto, soto-mestre, vice-presidente, vice-reitor, vizo-rei;
f) Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-, quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação, pós-tónico/pós-tônico (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover).
2.º Não se emprega, pois, o hífen:
a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia;
b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo, coeducação, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual.
3.º Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nos vocábulos terminados por sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim.
1 – No texto oficial, por lapso, “hor”.
Base XXIX
Emprega‑se o hífen em palavras formadas com prefixos de origem grega ou latina, ou com outros elementos análogos de origem grega (primitivamente adjectivos), quando convém não os aglutinar aos elementos imediatos, por motivo de clareza ou expressividade gráfica, por ser preciso evitar má leitura, ou por tal ou tal prefixo ser acentuado graficamente. Assim o documentam os seguintes casos:
1.°) compostos formados com os prefixos contra, extra (exceptuando‑se extraordinário), infra, intra, supra e ultra, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal, h, r ou s: contra‑almirante, contra‑harmónico, contra‑regra, contra‑senha; extra‑axilar, extra‑humano, extra‑regulamentar, extra‑secular; infra‑axilar, infra‑hepático, infra‑renal, infra‑som; intra‑hepático, intra‑ocular, intra‑raquidiano; supra‑axilar, supra‑hepático, supra‑renal, supra‑sensível; ultra‑humano, ultra‑oceânico, ultra‑romântico, ultra‑som;
2.°) compostos formados com os elementos de origem grega auto, neo, proto e pseudo, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal, h, r ou s: auto‑educação, auto‑retrato, auto‑sugestão; neo‑escolástico, neo‑helénico, neo‑republicano, neo‑socialista; proto‑árico, proto‑histórico, proto‑romântico, proto‑sulfureto; pseudo‑apóstolo, pseudo‑revelação, pseudo‑sábio;
3.°) compostos formados com os prefixos anti, arqui e semi, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h, i, r ou s: anti‑higiénico, anti‑ibérico, anti‑religioso, anti‑semita; arqui‑hipérbole, arqui‑irmandade, arqui‑rabino, arqui‑secular; semi‑homem, semi‑interno, semi‑recta, semi‑selvagem;
4.°) compostos formados com os prefixos ante, entre e sobre, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h: ante‑histórico; entre‑hostil; sobre‑humano;
5.°) compostos formados com os prefixos hiper, inter e super, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por h ou por um r que não se liga foneticamente ao r anterior: hiper‑humano; inter‑helénico, inter‑resistente; super‑homem, super‑requintado;
6.°) compostos formados com os prefixos ab, ad e ob, quando o segundo elemento começa por um r que não se liga foneticamente ao b ou d anterior: ab‑rogar; ad‑renal; ob‑reptício;
7.°) compostos formados com o prefixo sub, ou com o seu paralelo sob, quando o segundo elemento começa por b, por h (salvo se não tem vida autónoma: subastar, em vez de sub‑hastar), ou por um r que não se liga foneticamente ao b anterior: sub‑bibliotecário, sub‑hepático, sub‑rogar; sob‑roda, sob‑rojar;
- 8.°) compostos formados com o prefixo1 circum, quando o segundo elemento começa por vogal, h, m ou n: circum‑ambiente, circum‑hospitalar, circum‑murado, circum‑navegação;
9.°) compostos formados com o prefixo co, quando este tem o sentido de «a par» e o segundo elemento tem vida autónoma: co‑autor, co‑dialecto, co‑herdeiro, co‑proprietário;
10.°) compostos formados com os prefixos com e mal, quando o segundo elemento começa por vogal ou h: com‑aluno; mal‑aventurado, mal‑humorado;
11.°) compostos formados com o elemento de origem grega pan, quando o segundo elemento tem vida à parte e começa por vogal ou h: pan‑americano, pan‑americanismo; pan‑helénico, pan‑helenismo;
12.°) compostos formados com o prefixo bem, quando o segundo elemento começa por vogal ou h, ou então quando começa por consoante, mas está em perfeita evidência de sentido: bem‑aventurado, bem‑aventurança, bem‑humorado; bem‑criado, bem‑fadado, bem‑fazente, bem‑fazer, bem‑querente, bem‑querer, bem‑vindo;
13.°) compostos formados com o prefixo sem, quando este mantém a pronúncia própria e o segundo elemento tem vida à parte: sem‑cerimónia, sem‑número, sem‑razão;
14.°) compostos formados com o prefixo ex, quando este tem o sentido de cessamento ou estado anterior: ex‑director, ex‑primeiro‑ministro, ex‑rei;
15.°) compostos formados com os prefixos vice e vizo (salvo se o segundo elemento não tem vida à parte: vicedómino), ou com os prefixos soto e sota, quando sinónimos desses: vice‑almirante, vice‑cônsul, vice‑primeiro‑ministro; vizo‑rei, vizo‑reinado, vizo‑reinar; soto‑capitão, soto‑mestre, soto‑piloto; sota‑capitão, sota‑patrão, sota‑piloto;
16.°) compostos formados com prefixos que têm acentos gráficos, como além, aquém, pós (paralelo de pos), pré (paralelo de pre), pró (com o sentido de «a favor de»), recém: além‑Atlântico, além‑mar; aquém‑Atlântico, aquém‑fronteiras; pós‑glaciário, pós‑socrático; pré‑histórico, pré‑socrático; pró‑britânico, pró‑germânico; recém‑casado, recém‑nascido.
Base XXX
Emprega‑se o hífen nos vocábulos terminados por sufixos de origem tupi‑guarani que representam formas adjectivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré‑guaçu, anajá‑mirim, andá‑açu, capim‑açu, Ceará‑Mirim.
1 – No texto oficial, por lapso, “com os prefixos”.
6 – Emprego do hífen (bases XV a XVII).
6.1 – Estado da questão
No que respeita ao emprego do hífen, não há propriamente divergências assumidas entre a norma ortográfica lusitana e a brasileira. Ao compulsarmos, porém, os dicionários portugueses e brasileiros e ao lermos, por exemplo, jornais e revistas, deparam-se-nos muitas oscilações e um largo número de formações vocabulares com grafia dupla, ou seja, com hífen e sem hífen, o que aumenta desmesurada e desnecessariamente as entradas lexicais dos dicionários. Estas oscilações verificam-se sobretudo nas formações por prefixação e na chamada recomposição, ou seja, em formações com pseudoprefixos de origem grega ou latina.
Eis alguns exemplos de tais oscilações: ante-rosto e anterrosto, co-educação e coeducação, pré-frontal e prefrontal, sobre-saia e sobressaia, sobre-saltar e sobressaltar; aero-espacial e aeroespacial, auto-aprendizagem e autoaprendizagem, agro-industrial e agroindustrial, agro-pecuária e agropecuária, alvéolo-dental e alvealodental, bolbo-raquidiano e bolborraquidiano, geo-história e geoistória, micro-onda e microonda; etc.
Estas oscilações são, sem dúvida, devidas a uma certa ambiguidade e falta de sistematização das regras que sobre esta matéria foram consagradas no texto de 1945. Tornava-se, pois, necessário reformular tais regras de modo mais claro, sistemático e simples. Foi o que se tentou fazer em 1986.
A simplificação e redução operadas nessa altura, nem sempre bem compreendidas, provocaram igualmente polémica na opinião pública portuguesa, não tanto por uma ou outra incongruência resultante da aplicação das novas regras, mas sobretudo por alterarem bastante a prática ortográfica neste domínio.
A posição que agora se adopta, muito embora tenha tido em conta as críticas fundamentadas ao texto de 1986, resulta, sobretudo, do estudo do uso do hífen nos dicionários portugueses e brasileiros, assim como em jornais e revistas.
6.2 – O hífen nos compostos (base XV)
Sintetizando, pode dizer-se que, quanto ao emprego do hífen nos compostos, locuções e encadeamentos vocabulares, se mantém o que foi estatuído em 1945, apenas se reformulando as regras de modo mais claro, sucinto e simples.
De facto, neste domínio não se verificam praticamente divergências nem nos dicionários nem na imprensa escrita.
6.3 – O hífen nas formas derivadas (base XVI)
Quanto ao emprego do hífen nas formações por prefixação e também por recomposição, isto é, nas formações com pseudoprefixos de origem grega ou latina, apresenta-se alguma inovação. Assim, algumas regras são formuladas em termos contextuais, como sucede nos seguintes casos:
a) Emprega-se o hífen quando o segundo elemento da formação começa por h ou pela mesma vogal ou consoante com que termina o prefixo ou pseudoprefixo (por exemplo: anti-higiénico, contra-almirante, hiper-resistente);
b) Emprega-se o hífen quando o prefixo ou falso prefixo termina em m e o segundo elemento começa por vogal, m ou n (por exemplo: circum-murado, pan-africano).
As restantes regras são formuladas em termos de unidades lexicais, como acontece com oito delas (ex-, sota– e soto-, vice– e vizo-; pós-, pré– e pró-).
Noutros casos, porém, uniformiza-se o não emprego do hífen, do modo seguinte:
a) Nos casos em que o prefixo ou o pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, estas consoantes dobram-se, como já acontece com os termos técnicos e científicos (por exemplo: antirreligioso, microssistema);
b) Nos casos em que o prefixo ou o pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente daquela, as duas formas aglutinam-se, sem hífen, como já sucede igualmente no vocabulário científico e técnico (por exemplo: antiaéreo, aeroespacial).
6.4 – O hífen na ênclise e tmese (base XVII)
Quanto ao emprego do hífen na ênclise e na tmese mantêm-se as regras de 1945, excepto no caso das formas hei de, hás de, há de, etc., em que passa a suprimir-se o hífen. Nestas formas verbais o uso do hífen não tem justificação, já que a preposição de funciona ali como mero elemento de ligação ao infinitivo com que se forma a perífrase verbal (cf. hei de ler, etc.), na qual de é mais proclítica do que apoclítica.
O texto do Acordo prevê o uso do hífen nas formações em que o prefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento (ex.: anti-ibérico, auto-observação) e nas formações em que o prefixo termina em m ou n, quando combinado com elementos iniciados por m ou n (ex.: circum-navegação, circum-murado). O texto legal não prevê, no entanto, os casos em que o prefixo termina na mesma consoante com que se inicia o segundo elemento (ex.: sub-bibliotecário, sub-bloco) |cf. Acordo de 1945, Base XXIX, 7.º|. Por analogia com o que é preconizado para as vogais e também para os casos em que a mesma consoante é m ou n, poderia deduzir-se que deve utilizar-se hífen nesses casos. Apenas o ponto 6.3 da Nota Explicativa do texto do Acordo resolve esta lacuna: “Emprega-se o hífen quando o segundo elemento da formação começa por h ou pela mesma vogal ou consoante com que termina o prefixo ou pseudoprefixo (por exemplo: anti-higiénico, contra-almirante, hiper-resistente).”
Por outro lado, o texto legal prevê o hífen nas formações em que o prefixo termina em r, quando combinado com elementos iniciados por r, mas não prevê os casos em que o primeiro elemento termina em consoante oclusiva (ex.: ab-, ad-, ob-, sob-, sub-) e o segundo elemento se inicia por r (ex.: ab-reacção, ad-reacção, ob-repção, sob-rojar, sub-reptício) |cf. Acordo de 1945, Base XXIX, 6.º e 7.º|. Para que seja mantida a pronúncia rr do segundo elemento, terá de manter-se o hífen. De outro modo, a consoante r ligar-se-á à consoante que a precede e passará de vibrante velar /R/ (ex.: sub-reptício /subR/), como na palavra carro, a vibrante alveolar /r/ (ex.: subreptício /subr/]), como na palavra caro.