Ao escrever um texto num computador que tem instalado o vosso corrector ortográfico FLiP 5, verifiquei que a palavra por mim usada "precaridade" é assinalada como erro. Habituada a ver constantemente em propaganda política o erro "precariedade", verifiquei com horror que esta era a sugestão do FLiP! Felizmente tenho em casa um bom dicionário da Porto Editora munida do qual pude provar ao meu marido que não sou eu a ignorante... Em nome do meu marido e de tantos outros que não se podem dar ao luxo de dispensar o corrector ortográfico, solicito a V. Exas. que se dêem pressa em corrigir este grave erro, a fim de evitar que as gerações vindouras, de léxico já tão fragilizado, aprendam o erro como coisa certa e venham depois arrogantemente corrigir os poucos que ainda vão sabendo falar e escrever um português escorreito. P. C . P. G.
(Portugal) |
A forma precariedade está correcta: não se trata de erro, conforme
pode verificar seguindo a hiperligação para o
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa ou consultando outras obras lexicográficas, como sejam o
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa,
o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o Novo Dicionário Aurélio
da Língua Portuguesa, o Grande Vocabulário da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, ou o Vocabulário da Língua Portuguesa, de Francisco
Rebelo Gonçalves (este último refere mesmo que precaridade se trata de
forma inexacta de precariedade). Aliás, a generalidade dos dicionários e
vocabulários regista apenas precariedade, dado ser esta a forma que
respeita as regras de boa formação morfológica em português: de facto, os adjectivos com a terminação
átona -io (ex.:
espúrio,
hereditário,
sério,
transitório,
vitalício) formam os substantivos correspondentes por aposição do sufixo
-edade (ex.:
espuriedade,
hereditariedade,
seriedade,
transitoriedade,
vitaliciedade), terminando por isso em ‑iedade.
O Grande Dicionário Língua Portuguesa (2004), da Porto Editora, regista,
efectivamente, a palavra precaridade, remetendo-a para precariedade,
tal como acontece no dicionário electrónico Cândido de Figueiredo – Grande
Dicionário Electrónico da Língua Portuguesa (Bertrand Editora / Máquinas em
Movimento – Oficina Multimédia Lda., 1996 [CD-ROM]) ou no Novo Grande
Dicionário da Língua Portuguesa Conforme Acordo Ortográfico (Texto Editores, 2007). As razões
inerentes a esta inclusão prendem-se provavelmente com o uso, com a necessidade
de reencaminhar os falantes para a forma preferencial ou
devem-se a outros critérios sobre os quais poderá questionar as respectivas
editoras/equipas editoriais.
Em momento algum, porém, se pode afirmar que
precariedade é um erro, pois é justamente essa a forma considerada mais correcta. A forma
precaridade advém da possível confusão com palavras formadas por aposição do
sufixo -idade, muito produtivo em português, como
regularidade (de regular + -idade) ou
efemeridade (de efémero + -idade).
A Priberam zela por incluir no léxico do FLiP termos atestados em
obras de referência, nomeadamente, prontuários, vocabulários e dicionários. A
ortografia de tais obras rege-se, em princípio, pelos principais textos legais
em vigor para a norma europeia (sobretudo o
Acordo Ortográfico de 1945 e o
Acordo Ortográfico de 1990), respeitando a tradição lexicográfica
portuguesa. A inclusão de novos vocábulos, seja por sugestão de utilizadores,
seja por pesquisas em corpora, quando não atestados em obras de referência, é
efectuada apenas se a sua formação respeitar as regras ortográficas e
morfológicas da língua portuguesa. |