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duplo particípio do verbo salvar [Flexão verbal]

Qual o correto uso do particípio passado do verbo salvar quando vier na seguinte frase: "ainda bem que eu já tinha... (salvo ou salvado) os arquivos"?
Lívia (Brasil)

O verbo salvar, como poderá verificar no conjugador de verbos do FLiP, apresenta duplo particípio passado: salvado e salvo.

Nos verbos em que este fenómeno acontece, o particípio regular (ex.: salvado) é geralmente usado com os auxiliares ter e haver para formar tempos compostos (ex.: a equipa já tinha salvado todos os náufragos) e as formas do particípio irregular (ex.: salvo, salvos, salva, salvas) são usadas maioritariamente com os auxiliares ser e estar para formar a voz passiva (ex.: os montanhistas foram salvos de helicóptero).
Citando Lindley Cintra e Celso Cunha, "de regra, a forma regular emprega-se na constituição dos tempos compostos da VOZ ACTIVA, isto é, acompanhada dos auxiliares ter ou haver; a irregular usa-se, de preferência, na formação dos tempos da VOZ PASSIVA, ou seja acompanhada do auxiliar ser."

Estas são considerações da gramática tradicional, que muitas vezes contrariam os usos mais habituais dos falantes, pois quer no português de Portugal, quer no português do Brasil, por exemplo, são muito usuais construções como tinha salvo, sem que isso seja entendico como erro ou construção desviante. Evanildo Bechara, por seu lado, faz observação semelhante à de Lindley Cintra e Celso Cunha, mas inclui o verbo salvar no conjunto de "outros particípios, regulares ou irregulares, que se usam indiferentemente na voz ativa (auxiliares ter ou haver) ou passiva (auxiliares ser, estar ou ficar) [...]".

Tendo em consideração o que acima ficou exposto, na frase que refere qualquer dos particípios poderá ser usado, embora se possa considerar que o uso da forma do particípio regular (ainda bem que eu já tinha salvado os arquivos) segue a regra mais geral.

Bibliografia:
Evanildo BECHARA, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002, pp. 229-230.
Celso CUNHA, Lindley CINTRA, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 14.ª ed., Lisboa: Edições Sá da Costa, 1998, pp. 441-442.
Eduardo RAPOSO et alii, (orgs.), Gramática do Português, 1.ª ed., 3 vol., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2013-2020, pp.2972-2973.

Ver também: secado, impresso/imprimido, morto/morrido/matado, libertado e liberto, particípio passado regular e irregular, pago

Pedro Mendes, 03/11/2010

Notas:

  1. As respostas são datadas e escritas segundo a ortografia da norma europeia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.
  2. A base do dicionário foi alterada a 1 de Abril de 2009, pelo que as referências em dúvidas anteriores a esta data podem não corresponder ao conteúdo actual. As respostas sobre questões ortográficas são maioritariamente baseadas na norma ortográfica portuguesa de 1945, contendo as respostas mais recentes indicações sobre a ortografia antes e depois do Acordo Ortográfico de 1990.
  3. A bibliografia utilizada está disponível aqui.