De facto, no português europeu (de Portugal) o singular de caracteres é carácter (ou caráter no português do Brasil). Com a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 ao português europeu, o par singular/plural é caráter/carateres, mas, no português do Brasil, o par singular/plural é sempre caráter/caracteres.
Na flexão carácter/caracteres encontramos um plural irregular que faz deslocar o acento tónico da sílaba -rá- de carácter
para a sílaba -te- de caracteres. Isto acontece
provavelmente por ser uma forma de derivação culta, a partir do latim
character, -eris, correspondendo a acentuação em português a vogais longas do
latim, quer no nominativo singular
character, quer no plural
charcteres.
Este fenómeno de deslocamento do acento na flexão do plural não é exclusivo da palavra carácter. O mesmo acontece
frequentemente com as palavras júnior ou sénior, por exemplo, cujos plurais irregulares são
juniores e seniores (com o acento tónico na sílaba -o-, juniores ou seniores).
O plural desta palavra está na origem de um singular *junior ou *senior
que, tal como caracter ou caractere, deverá ser evitado.
A palavra caractere tem muitas ocorrências, mas é
ainda considerada uma forma desaconselhada no português de Portugal. Esta forma surgiu por dedução a partir do plural irregular, isto é, nos
contextos de carácter em que a palavra aparece mais frequentemente no
plural (por exemplo, os caracteres tipográficos, os caracteres de um texto,
digitar caracteres), os falantes fizeram a regularização do singular a partir do plural irregular, por
hipercorrecção, retirando a terminação
do plural (-s) e mantendo a acentuação tónica do plural (caractere[s]).
Para o português do Brasil, a forma caractere surge já em vários dicionários
(por exemplo no Dicionário Priberam, Dicionário Houaiss e no Dicionário Aurélio), com
as acepções relativas a letras, tipos ou sinais, no domínio da tipografia e da
informática. A edição portuguesa do Dicionário Houaiss (Círculo de
Leitores, 2002) é a única obra lexicográfica portuguesa a registar caracter
como palavra do português de Portugal, mas considera-a, no entanto, menos
correcta do que carácter.
A palavra *caracter, apesar de ocorrer com frequência, não tem registo lexicográfico e deve ser evitada, quer no português de Portugal, quer no português do Brasil. O mesmo para a forma *caractére, com menos ocorrências, que apresenta acentuação gráfica irregular (as palavras graves, de um modo geral, não são acentuadas graficamente no sistema ortográfico português).
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