A questão não é pacífica, como acontece sempre que há
interferências linguísticas externas, mas parece um pouco redutor tratar
encriptar da mesma forma que printar, scanar ou até downloadar.
Se analisarmos a palavra encriptar, verificamos que, do ponto de vista
morfológico, ela é bem formada (ao contrário de printar, scanar ou
downloadar, que partem de segmentos inexistentes em português), derivando
de en + cripta + ar.
Do ponto de vista semântico, ela
sofreu um enriquecimento (por influência do inglês to encrypt, é certo) tal como aconteceu,
aliás, com outras palavras portuguesas (ex.: aceder, alocar,
compactar, compilar, configurar, digitalizar, etc.),
que ganharam sentidos novos no domínio informático.
Assim sendo, parece não
haver motivos linguísticos (a não ser a sensibilidade linguística de cada
falante) que impeçam a utilização de encriptar e derivados como sinónimos
de cifrar e derivados:
(1) É preciso encriptar / cifrar o canal.
(2) É preciso desencriptar / decifrar o canal.
(3) Curso de encriptação / cifração.
(4) Curso de desencriptação / decifração.
(5) Ficheiros encriptados / cifrados.
(6) Ficheiros desencriptados / decifrados.
A língua e alguns dicionários que a descrevem já dão conta desses factos
linguísticos. O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa regista efectivamente, na entrada encriptar, o
sentido primeiro de “colocar em cripta ou túmulo”, sentido esse dicionarizado
desde o séc. XIX, no Novo Dicionário da Língua Portuguesa (Lisboa, 1899),
de Cândido de Figueiredo, a par do sentido “codificar”, que questiona. Os
gramáticos e os dicionários não parecem ter dúvidas quanto à existência do verbo
encriptar, mas não se entendem quanto à acepção do domínio informático.
Por exemplo, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora,
2004) e o Dicionário Aurélio (Nova Fronteira, 1999) registam apenas essa
acepção de informática, pelo que o assunto promete permanecer polémico. |