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posição dos clíticos em locuções verbais [Sintaxe / Pronomes]

Como devo escrever: veio-me visitar ou veio visitar-me? E qual a construção mais correcta: porque ando a lê-lo ou porque o ando a ler (um livro)?
Ermelinda C. Garrido (Portugal)

A dúvida que nos coloca diz respeito à posição dos clíticos. Sobre este assunto em geral, deve consultar outras dúvidas já respondidas: posição dos clíticos e mesóclise. No entanto, a frase que nos envia coloca uma questão não tratada nesses textos: a colocação dos clíticos em tempos compostos, construídos geralmente com os auxiliares ter ou haver e o particípio passado, na voz activa (ex.: Tinha oferecido um livro à mãe), e com o auxiliar ser e o particípio passado, na voz passiva (ex.: O livro foi oferecido à mãe) ou em locuções verbais construídas com um verbo auxiliar ou semiauxilar conjugado e um verbo principal no infinitivo ou no gerúndio (ex.: Foi visitar o doente; Anda lendo muitos livros).

Nos casos em que há um tempo composto, se não houver um contexto que atraia o clítico (ex.: Não o tinha oferecido à mãe; por favor, consultar as alíneas a) a j) da resposta posição dos clíticos), este deverá ser colocado depois do verbo auxiliar (ex.: Tinha-o oferecido à mãe; Tinha-lhe oferecido o livro; Tinha-lho oferecido; O livro foi-lhe oferecido).

Nos casos em que há uma locução verbal construída por um verbo auxiliar ou semiauxilar e um verbo principal, o caso parece um pouco mais complexo, essencialmente por causa do estatuto de verbo auxiliar.

Se não houver um contexto que atraia o clítico (por favor, consultar as alíneas a) a j) da resposta posição dos clíticos), este será normalmente colocado depois do verbo principal (ex.: O livro é interessante e ando a lê‑lo/ando lendo-o há dois dias; Ele veio visitar-me esta semana). No entanto, nos casos referidos nas alíneas a) a j) da resposta posição dos clíticos, o clítico poderá estar antes do verbo auxiliar ou semiauxiliar (ex.: Nenhum aluno o anda a ler; Sei que ele me veio visitar esta semana) ou depois do verbo principal (ex.: Nenhum aluno anda a lê-lo; Sei que ele não veio visitar-me esta semana). Isto acontece provavelmente porque estas construções contêm um verbo considerado auxiliar ou semiauxiliar, mas que mantém ainda algumas características de verbo pleno, logo, o clítico tanto pode deslocar-se para antes da locução verbal (à semelhança do que acontece nos tempos compostos construídos com um verbo puramente auxiliar, como se se tratasse de um só verbo) como pode manter-se ligado ao verbo principal, de que depende semanticamente.

Em alguns casos, algumas destas construções assumem o comportamento dos verbos auxiliares dos tempos compostos (ex.: Veio-me visitar logo que pôde; O livro é enfadonho, mas ele anda-o a ler), não sendo, contudo, estruturas consensuais.

Bibliografia: Maria Helena Mira MATEUS et al., Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa: Caminho, 2003, pp. 826-867.

Ver também: posição dos clíticos com o verbo dever como auxiliar; posição dos clíticos com o verbo conseguir como auxiliar, amanhã: ênclise ou próclise

Helena Figueira, 05/01/2005

Notas:

  1. As respostas são datadas e escritas segundo a ortografia da norma europeia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.
  2. A base do dicionário foi alterada a 1 de Abril de 2009, pelo que as referências em dúvidas anteriores a esta data podem não corresponder ao conteúdo actual. As respostas sobre questões ortográficas são maioritariamente baseadas na norma ortográfica portuguesa de 1945, contendo as respostas mais recentes indicações sobre a ortografia antes e depois do Acordo Ortográfico de 1990.
  3. A bibliografia utilizada está disponível aqui.