A palavra
presidenta pertence à língua portuguesa.
Podemos fazer esta afirmação, por um lado, porque a palavra tem indesmentivelmente curso na
língua (o que é possível aferir através da pesquisa em corpora e em motores de
busca) e, por outro lado, porque está registada em
todos os dicionários e vocabulários contemporâneos consultados, nomeadamente nas principais
obras de referência da lexicografia portuguesa e brasileira, como o Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves
(1966) ou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras (5.ª edição, 2009). Não sabemos ao certo desde quando é que
este registo lexicográfico é feito, mas a palavra constava já do Novo
Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo (1899) ou do
Vocabulário Ortográfico e Remissivo da Língua Portuguesa de Gonçalves Viana
(1914).
É de referir que Cândido de Figueiredo regista este vocábulo como
neologismo na primeira edição do seu dicionário, em 1899, e abona o verbete com uma
referência à obra As Sabichonas, de António Feliciano de Castilho (1872),
versão livre da comédia de Molière Les Femmes Savantes, onde a personagem
Pancrácio se dirige várias vezes à personagem Teodora como "presidenta". Também Machado de Assis, na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), utiliza esta palavra: "Na verdade, um presidente, uma presidenta, um secretário, era resolver as coisas de um modo administrativo."
No entanto, como na maioria das questões linguísticas, o problema não se
esgota aqui e inclui variáveis de ordem social, cultural ou mesmo política que
têm de ser analisadas ou pelo menos ponderadas, o que origina a impossibilidade
de respostas peremptórias neste campo.
Os dicionários veiculam frequentemente informações relativas ao uso das palavras, por
vezes baseadas em critérios estatísticos (que é cada vez mais o caminho da
lexicografia contemporânea), outras vezes baseadas no conhecimento linguístico
dos lexicógrafos ou numa combinação de ambos. O registo encontrado nos
dicionários para a palavra presidenta
não é uniforme, e esta palavra ora surge sem qualquer indicação de uso (é o
caso do Dicionário Houaiss ou do Dicionário Aurélio), ora é
apresentada como fazendo parte de um registo de língua familiar (Dicionário
Aulete) ou
popular (Infopédia). Nestes últimos casos, os registos do dicionário
indicam-nos que o uso da palavra em situações de formalidade ou em que
se pretende um discurso irrepreensível é desaconselhado, mas esta informação não
é consensual.
Os cargos de presidência e de chefia têm sido, durante muitos anos,
maioritariamente desempenhados por pessoas do sexo masculino e os substantivos
correspondentes foram sendo registados na tradição lexicográfica como
substantivos masculinos, reflectindo esse facto. À medida que a sociedade se vai
alterando, torna-se necessário designar novas realidades, como seja o caso da
feminização de alguns cargos, decorrente do acesso da população feminina a tais
lugares.
A palavra presidente, durante muito tempo apenas substantivo
masculino, passou a ser usada e registada nos dicionários como substantivo de
dois géneros ou comum de dois (ex.: o presidente, a presidente). O uso de presidenta como feminino de presidente
corresponde a um padrão raro em português, podendo ser encontrado em formas como
giganta,
infanta ou
parenta, mas este uso tem sido feito ultimamente também como
afirmação política, social ou cultural, nomeadamente de cariz feminista, de que
são exemplos Dilma Rousseff, na presidência do Brasil, ou, a um nível mais
restrito, Pilar del Rio, na presidência da Fundação Saramago.
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